
Precificação de honorários periciais: métodos e cuidados práticos
Aprenda a definir honorários periciais com base em parâmetros técnicos, custos operacionais e legislação vigente.
Precificar honorários periciais não é simples, nem rápido. Quem já passou pela situação de ter seu trabalho subvalorizado – seja ao receber propostas com valores irrisórios, seja ao perceber que dedicou muito mais tempo do que calculou – sabe do que estou falando. Existe um certo receio (e às vezes até insegurança) quando você precisa dizer quanto vale sua perícia. E esse sentimento, acho que quase todo perito já teve.
Colocar preço no próprio trabalho é, muitas vezes, o passo mais difícil.
Mas há solução. Entender os métodos de precificação, conhecer os riscos e os cuidados práticos ― tudo isso pode trazer mais liberdade (e confiança) para negociar e atuar com tranquilidade.
Por onde começa a precificação?
O ponto de partida, quase sempre, envolve olhar para o tipo de perícia, sua complexidade, tempo requerido e, claro, não esquecer de custos associados e dos riscos envolvidos. Parece básico, certo? Mas ignorar só um desses pontos já pode distorcer o valor final e te deixar no prejuízo.
Vamos pensar em situações cotidianas:
- Perícias urgentes, solicitadas em cima da hora;
- Casos que demandam deslocamento para cidades distantes;
- Processos com grande quantidade de documentos a analisar;
- Aquisição ou contratação de ferramentas e serviços complementares.
No fim, o segredo está em não cair no improviso, nem no “achismo”.
Métodos para definir honorários periciais
Existem vários métodos, e cada um atende determinado contexto. Misturar técnicas, inclusive, é comum. Mas cada uma carrega vantagens, armadilhas e limites.
Método por hora trabalhada
Provavelmente, o mais antigo – e também, um dos mais transparentes. Calcula-se o valor da hora do perito e multiplica pelo tempo estimado para realizar a perícia. Mas essa conta exige sinceridade: é fácil subestimar o tempo. Quando a demanda se mostra mais trabalhosa, pode não compensar.
- Defina o valor da sua hora (analise sua formação, experiência, custo operacional);
- Estime o número de horas necessárias (sede para “guardar uma reserva” — sempre some algumas horas extras);
- Multiplique e veja se o valor está compatível com o mercado.
Esse método funciona melhor em perícias de escopo aberto, onde pode haver imprevistos. Porém, em muitos processos judiciais, o juiz questiona uma planilha detalhada, balizando cada item do serviço.
Método por tabela/referência oficial
Algumas entidades de classe disponibilizam tabelas referenciando preços mínimos/médios. O Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), por exemplo, e também conselhos de medicina, contabilistas, arquitetura. Nestes casos, normalmente há uma faixa de valores por tipo de perícia.
Essas tabelas auxiliam na argumentação para defender seu preço ou justificar honorários frente à parte contratante ou ao juízo. Nem sempre, porém, os valores são atualizados na velocidade do mercado.
Método por projeto/escopo fechado
Bastante usado quando se conhece em detalhes o universo da perícia. O valor é fechado para todo o serviço, do início à entrega final.
- Permite ao perito planejar melhor custos e prazos;
- Para o contratante, há previsibilidade do gasto;
- No entanto, vale muita atenção: se o escopo mudar, ajuste o preço também.
Escopo mal definido resulta, quase sempre, em prejuízo para o perito.
Fatores que o perito não pode ignorar
Além do método, existem vários fatores que alteram – para cima e para baixo – o valor dos honorários. Alguns deles são bem óbvios na teoria, mas passam batido na prática. Outros só aprendemos com vários anos de atuação (e talvez, alguns tropeços).
Despesas operacionais e custos ocultos
Pode parecer pouco, mas cada deslocamento, impressão, análise, correio, assinatura digital… tudo entra na conta. Não existe “menor detalhezinho” que não precise ser custeado.
Liste sempre suas despesas. É mais seguro. Se possível, cobre adiantado.
Riscos e imprevistos
Processos parados, pedidos de esclarecimento fora do escopo, documentos ilegíveis, reuniões que duplicam de número… São situações frequentes que, se não previstos, acabam corroendo o lucro.
O imprevisto quase nunca avisa antes de chegar.
Preveja um % extra no valor dos honorários para compensar possíveis atrasos ou custos não mapeados no início.
Tempo de recebimento
Muitos peritos esquecem de incluir o tempo até efetivamente receber (principalmente se atuar em processos judiciais). Às vezes, a perícia é feita em um mês, mas o pagamento só chega seis meses depois.
Ao calcular honorários, leve em conta esse risco do capital “empacado”.
Caso queira estudar mais sobre o lado financeiro da perícia, recomendo um artigo que fala em detalhes sobre como melhorar a gestão financeira de perícias judiciais.
Aspectos legais e éticos
Cada profissão tem limites legais, éticos e normativos na hora de cobrar. Não custa lembrar: valores abusivos (ou, ao contrário, muito baixos) podem ser contestados, inclusive judicialmente.
O contexto jurídico das perícias também pode influenciar a argumentação — se quiser se aprofundar nos cuidados legais ao elaborar laudos ou definir valores, veja o artigo sobre aspectos legais na elaboração de laudos periciais.
Cuidados práticos no dia a dia
Ao longo dos anos, percebi que alguns cuidados ajudam a reduzir dores de cabeça, garantir uma remuneração justa e manter credibilidade — tanto entre colegas, quanto perante juízes e clientes.
- Formalize propostas por escrito: seja claro quanto ao escopo, prazo e valor. Evita refações e discussões posteriores.
- Negocie revisões de honorários: se o trabalho crescer além do esperado, solicite ajuste.
- Guarde registros: e-mails, documentos, comprovantes. Servem como prova em discussões futuras.
- Atualize-se periodicamente: novas regras, tabelas, jurisprudências podem mudar quanto (e como) cobrar.
- Mantenha controle financeiro: anote tudo, desde pequenos deslocamentos até valores de refeições.
Personalizando a precificação
A cada novo cliente ou processo, os detalhes mudam. Uma dica? Nunca copie simplesmente um modelo antigo. Verifique se a complexidade é mesmo a mesma, se o cliente tem demandas extras, se há algum novo requisito normativo.
Caso perceba que a perícia depende muito de gestão de tarefas, agendamento ou integração com outros profissionais, confira, por exemplo, práticas recomendadas para gerenciamento de agendas de peritos judiciais, pois um bom controle afeta diretamente a estimativa de honorários.
Afinal, como apresentar seu preço?
Depois de tantas variáveis, surge sempre a dúvida: como negociar? Como não “espantar” o cliente ou o juiz, mas também não aceitar valores fora da realidade?
A apresentação dos honorários, seja para o contratante particular, empresa ou Justiça, deve ser respeitosa e, ao mesmo tempo, transparente. Sugira uma justificativa clara: explique o método empregue, o tempo despendido, especializações envolvidas, custos externos. Evite parecer inflexível — mas não ceda ao ponto de comprometer a viabilidade do seu trabalho.
Aliás, há oportunidades em integrar diferentes áreas ou estratégias de trabalho colaborativo. Tem um artigo interessante sobre estratégias para integração e otimização do trabalho pericial, que pode abrir novos cenários de precificação e de faturamento.
Cobrar certo é sinônimo de respeito ao próprio trabalho.
Pontos finais e pequenos aprendizados
- Sempre revise seu método de precificação, mesmo que ache que já domina o processo.
- Tenha humildade de ajustar valores se surgirem fatores imprevistos.
- Converse com outros peritos. Trocar vivências pode abrir os olhos para detalhes importantes.
- Lembre: cada perícia é única. Não existe uma tabela mágica (embora, às vezes, a gente queira muito que exista).
Se quiser outras visões sobre o relacionamento com clientes e como extrair mais do seu potencial como perito, há boas sugestões em estratégias de gestão para peritos.
Por fim, precificar bem é, no fundo, um processo vivo. Você erra, testa, acerta; ajusta conforme aprende mais sobre o seu próprio valor e sobre as demandas do mercado. E é nesse aprender contínuo ― um tanto empírico, um tanto teórico ― que se constrói a verdadeira confiança na hora de dizer: “Este é o meu preço”.
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